Quero apresentar-lhes o excelente coreógrafo : Tíndaro Silvano
- nancy Gonçalves
- 31 de jan. de 2017
- 6 min de leitura

Meu nome é Tindaro Silvano. Tenho 60 anos. Sou nascido em Luz e educado em Belo Horizonte.
Trabalho como bailarino, coreógrafo e maître de ballet em diversos grupos e companhias no Brasil e exterior. Participo de inúmeros festivais de dança onde atuo como jurado, professor, palestrante, ministro workshops sobre criação coreográfica e em alguns deles apresento trabalhos na competição.
Minha ligação com a arte cênica começou aos 15 anos quando comecei a trabalhar no teatro “profissional” em BH. Aos 18 fui convidado a fazer um musical e orientado a procurar aulas de dança para que pudesse me sair melhor na performance teatral.
Fui procurar o Professor Carlos Leite na Escola do Palácio das Artes em Belo Horizonte e ali me senti muito bem recebido. Na minha primeira aula eu já decidi que era aquilo que eu queria fazer para o resto da vida.
Meus mestres mais marcantes foram os professores: Carlos Leite no Palácio das Artes, Hugo Dellavalle no Teatro Guaíra de Curitiba
Bettina Bellomo Palácio das Artes em Belo Horizonte
Jane Blauth, Theatro Municipal (1981-1985) Rio de Janeiro
O que mais me encantava no Professor Carlos Leite era sua vasta cultura e generosidade ao transmitir o muito que sabia sobre a historia da dança e dos grandes balés. Com ele aprendi muito sobre disciplina, rigor e ética.
Com Hugo Dellavalle eu pude conviver de perto com um artista em pleno vigor, aprender muitos papeis de repertorio clássico e neoclássico e também sobre o mundo da dança, pois o mesmo acabava de chegar ao Brasil vindo de uma temporada de mais de 15 anos na Europa.
Bettina Bellomo trouxe ar fresco para a dança em Minas. Chegou ao nosso estado ainda jovem e, sendo uma bailarina extraordinária trazia em sua bagagem toda uma experiência adquirida em sua vitoriosa carreira nos Teatros Colón e San Martin em Buenos Aires e no Ballet de Cuba onde atuou como primeira bailarina alternando os principais papeis com a diva Alicia Alonso. Suas aulas eram encantadoras e nos incitava a buscar novas possibilidades até então desconhecidas por nós em MG.
A mestra Jane Blauth era de origem gaúcha e foi grande bailarina na Europa. Tive oportunidade de com ela aprender em cursos de verão no Ballet Stagium em São Paulo e no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Jane sabia como ninguém imprimir um ambiente artístico dentro da sala de aula. Anos mais tarde eu a substituí em sua escola em São Paulo.
Venho de uma família de professores. Meus bisavôs já ensinavam em suas cidades de origem. Meu avô Tindaro, pai de minha mãe era professor e fundou as primeiras escolas em Luz, cidade que escolheu viver com minha avó e criar sua família. Meus pais também eram ótimos pedagogos em potencial. Logo que comecei a estudar dança eu saí à procura de tudo que pudesse vir a me enriquecer culturalmente. Visitava diariamente a Biblioteca publica em BH onde havia alguns livros (em Russo, Frances ou Espanhol) sobre dança e Também procurava nas lojas de discos da cidade (e em sebos em BH e noutras cidades do país) livros sobre arte e musica clássica. Tão logo eu tomei um pezinho na carreira eu já agrupava interessados em dança e já começava a passar o que eu sabia até então para frente. Dei aulas todo o tempo em que dançava, mas considero que minha carreira de professor iniciou-se mesmo quando resolvi, por motivos vários a parar de dançar e a me dedicar ao estudo da coreografia e ao ensino da técnica de dança.
Eu sempre viajei muito. Desde meu começo na dança eu costumava ir ao Rio e a SP a fim de assistir espetáculos de teatro, dança e ouvir as orquestras sinfônicas daqueles estados. Em 1979 em meio a uma série de dificuldades (vivíamos ainda em plena ditadura) eu fiz minha primeira viagem à Europa onde tomei aulas em Londres com o Professor John O`Brien que era o maître do Royal Ballet e a seguir com o grande maestro Raymond Franchetti em Paris. Este ultimo era, nesta época o maître da Opera de Paris e suas aulas eram concorridíssimas. Costumavam fazer a mesma aula que eu estrelas do calibre de um Nureyev, Zizi Jeamarie, Michael Denard, Elizabeth Platel e muitos outros. Em sequencia fui convidado a integrar o Ballet Gulbenkian, em Lisboa que, naquela época (1979-1980) vivia um momento grandioso dançando renomados coreógrafos europeus e americanos e fazendo regularmente tournées internacionais.
Em 1980 decidi voltar para o Brasil, pois era a época da “abertura” política e era só nisso que se falava na Europa.
Vim direto para o Palácio das Artes e neste ano realizamos uma tournée nacional com o bailarino Mikail Baryshnikov e a estrela do ABT Zandra Rodrigues.
Em 1981 entrei para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e ali tive a oportunidade de dançar vários balés de repertorio e de conviver com grandes estrelas nacionais e internacionais. Pude também fazer aulas com diversos professores e experimentar criações especiais para o elenco daquela renomada cia.
Por razoes artísticas e pela busca de novas possibilidades de expressão eu me demiti daquele teatro em 1985.
Em 1986 passei a trabalhar com o Grupo de Dança Cisne Negro de São Paulo e ali permaneci até o ano de 1988.
Durante este período dei aulas, ensaiei e comecei a fazer minhas primeiras coreografias para bailarinos profissionais. Foi um tempo muito bom, pois o grupo vivia um momento efervescente e com eles pude fazer tournées pela Europa e Estados Unidos.
Em 1988 fui convidado a dirigir o Ballet do Palácio Das Artes que passava por crise muito forte. Ao ser convidado pelo então presidente da Fundação Clovis Salgado, Dr. Helvécio Guimarães, assumi o compromisso de fazer daquela a melhor Cia de dança do país, compromisso que levei muito a sério durante os 8 anos que me mantive à frente do elenco. Em 1996 desliguei-me da Cia e passei a trabalhar como free-lance. Coreografei para diversos teatros oficiais no Brasil, tais como Ballet Guaíra, Teatro Castro Alves, Municipal do Rio de Janeiro e para outros importantes grupos e cias no Brasil e exterior.
Durante os anos de 2005 e 2006 fui convidado a residir na “Cité Internationale des Arts” em Paris e ali pude viver um momento marcante de minha vida, pois através de uma generosa bolsa eu pude assistir aulas e espetáculos na cidade assim como fazer cursos de arte, visitar museus e me aprimorar no idioma francês.
Quando voltei a residir em BH tive grande dificuldade de (re)adaptação. Voltei com uma bagagem enorme, não só intelectualmente falando, mas com livros e vídeos e tentei, de varias formas mostrar este material para os bailarinos e interessados na cidade. Infelizmente ninguém se interessou pelo rico acervo que tenho comigo até hoje. Liguei para curadores de festivais, diretores de Companhias e de escolas de dança, mas o desinteresse foi generalizado. Salvo o grupo de estudos da Regina Amaral para os quais pude mostrar alguma coisa.
Pouco a pouco fui me reintegrando ao panorama de dança do país e novos convites começaram a chegar para trabalhar não somente aqui, mas também na Europa e Estados Unidos.
Durante os últimos 5 anos fui aproximadamente umas 20 vezes trabalhar na Europa e nesse meio tempo dirigi o Ballet Jovem do Palácio das Artes do qual me desliguei depois de 3 anos. Para esse grupo criei 5 peças que ainda são dançadas e muito bem recebidas pelo elenco, direção e publico.
Trabalho mais efetivamente com o Grupo Jovem do Ballet Compasso e com eles tenho obtido um bom resultado artístico inclusive vários trabalhos classificados e premiados em diversos festivais nacionais e internacionais.
No ano de 2012 participei de um projeto muito arrojado junto ao violoncelista grego, radicado em São Paulo Dimos Goudaroulis que convidou a mim e mais outros 5 coreógrafos de peso e reconhecimento para criar obras sobre as 6 suítes para Cello de Bach. O espetáculo foi encenado, com grande sucesso no Teatro Alfa em São Paulo.
Sempre houve um grande movimento na área de dança em BH mas neste momento acho que estamos numa fase de baixa. Com raríssimas exceções quase não há bailarinos mineiros nas principais cias do país. Já fomos uma importante usina de formação, mas neste momento não o somos. Acho que vivemos uma entressafra.
Se as cias profissionais residentes com sede em BH pudessem estar mais presentes e participativas em nossa cidade, e porque não dizer em nosso estado penso que poderia haver uma bela mudança no panorama local. É preciso criar condições de se apresentar mais espetáculos de dança no estado. Os alunos necessitam de espelho e de exemplos palpáveis para até mesmo fazerem suas escolhas estéticas.
Os poucos festivais e mostras de dança que aqui acontecem são muito fracos e, salvo um grupo ou outro que vem como convidado, o nível dos mesmos é muito pouco expressivo, não representando em hipótese alguma as tendências da dança mundial.
Na minha opinião falta aos festivais de dança de todo o Brasil um foco na busca de novos criadores. Incentivar os jovens coreógrafos deveria ser a tônica destes eventos que em sua maioria, salvo poucas exceções, são muito comerciais.
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